sexta-feira, 23 de abril de 2010

Parada para o merchan

Pessoal, pessoal, pessoal! Vai sair na segunda quinzena de maio!

A Editora Draco vai lançar uma coletânea de histórias românticas estreladas por vampiros e adivinha quem tá lá? *pausa para dancinha da vitória* Clique aqui para ver o site da editora com a chamada do livro a minibiografia das autoras.

A capa ficou BEM menininha. Olha ela aqui:


Mas não se enganem, nem tudo é cor-de-rosa. O organizador, Eric Novello, fala sobre "Meu amor é um vampiro" no site dele e aproveita para fazer uma microsinopse dos contos. Dêem uma lidinha aqui.

Ele descreve meu conto como um "conto de fadas repaginado". Será que vai ficar bravo comigo se eu disser que a parte do "conto de fadas" entrou pra contar caracteres? XD Mas confesso que gostei mil vezes mais da versão que mandei pro livro que a versão original, mais enxuta.

(Outro detalhe que felizmente ficou de fora do conto é que o Pedro é um escritor boêmio, mulherengo e solteirão, mas que tem imaginação o bastante para passar por romântico. Esse tipo de informação quebraria o clima. XD)

No mais, só quero agradecer à ruiva Agnes Mirra, porque o conto foi feito usando como mote a citação do conto dela, "Inverno". Tem um tempão que a gente não se fala, mas continuo gostando dos delírios agnescos dela. =3

No mais, iuhul! \o/

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Estilizando o vampiro, ou o erro fatal de Stephenie Meyer

Eu ia simplesmente chamar vocês para darem uma lida no beta do Conservatório, mas achei melhor fazer uma ligeiríssima nota sobre vampiros em geral, inspirada na pergunta com que vêm me enchendo o saco há um tempo: "por que o Diego toma sol e não acontece nada? Mimimi..."

Zente, desculpem se eu digo isso, mas vampiros se desfazendo em cinzas com inocentes raios de sol é uma invenção hollywoodianesca tão tosca quanto os vampiros brilhantes de Crepúsculo (é, Edward, Diego não perdoou você). O fato é que filmes são muito mais curtos que livros, então, há certas liberdades poéticas que foram tomadas com os vampiros ao longo dos anos que não existiam originalmente no mito.

Vocês devem estar se perguntando agora, então: por que os vampiros-fogueira foram aceitos enquanto os brilhantes são toscos, se nenhuma das duas pirotecnias tem qualquer base?

Antes de mais nada, vamos sair da esfera literária e aprender uma ou duas coisinhas bacanas sobre desenho. Existe uma técnica chamada "estilização". Estilizar significa reduzir uma figura às formas mais simples possíveis, sem que ela perca sua identidade. Pablo Picasso estilizou um touro em uma série de desenhos muito famosa:


Percebem? Entre o primeiro touro, o mais realista, e o último, apenas um punhado de traços, houve vários intermediários. Mas todas as figuras têm em comum o fato de que são, inegavelmente touros. A identidade do animal não se perdeu.

O que isso tem a ver com o assunto anterior?

Simples. Quando vamos nos apropriar de uma figura mitológica já conhecida, não somos obrigados a fazê-lo de forma absolutamente realística, como o primeiro touro, mas, ao estilizá-la, precisamos ter certeza de que estamos suprimindo traços realmente supérfluos. O touro estilizado de Picasso não pareceria um touro se o pintor tivesse se esquecido os chifres, por exemplo. Ou, se lhe tivesse dado o contorno de um cavalo, o faria parecer mais um cervo que um touro.

É aí que entra a diferença entre o vampiro-tocha e o vampiro-purpurina. Stephenie Meyer cometeu erros sérios de estilização ao criar seu vampiro. Ela manteve três atributos importantes do vampiro: ele é morto, ele é sedutor e ele bebe sangue. Fim de papo. Alguém percebeu que falta algo muito importante aqui? O @cericn e a @anacarolinars perceberam. Não?

Eles não são noturnos! Desde a aurora da humanidade, os vampiros são um mal. E, como dizia Conan Doyle, é à noite que os poderes do mal são exaltados. Parece bobagem, mas ao fazer com que eles andassem pra lá e pra cá impunemente à luz do Sol e quase não tivesse cenas à noite na série Crepúsculo, Meyer tirou os chifres do touro. Não é porque os vampiros brilham. É só que nosso subconsciente nos diz, instintivamente, que eles não se enquadram exatamente naquilo que nos acostumamos a chamar de vampiros.

Não tenho a pretensão de ser capaz de estilizar perfeitamente os vampiros. Até porque, acredito que possam haver formas diferentes de estilização, mas que tragam a mesma ideia. Para ilustrar o que digo, vou listar algumas características que acredito serem básicas de um vampiro, sejam visuais, sejam literárias (isso na minha cabeça, claro):

1 - Eles bebem sangue
2 - Eles se levantam de túmulos
3 - Eles são noturnos
4 - Eles são pálidos
5 - Eles têm caninos
6 - Eles encantam suas vítimas
7 - Eles são fortes
8 - Eles não morrem de morte natural

Acho que dá para começar com isso. Um vampiro com todas essas características é inegavelmente um vampiro para qualquer um. Mas eu o compararia ao penúltimo dos touros de Picasso. Acredito que um vampiro estilizado poderia conter tanto as características 1, 3, 7 e 8 quanto as características, digamos, 3, 6, 7 e 8. Sim, ele poderia se alimentar de algo que não sangue. Quanto casos há dos tais vampiros de energia? O caso dos caninos, admito, coloquei mais por questões estéticas que lógicas ou históricas. Mas é que, se você apresentar um smiley, ele logo será identificado como um ser humano. Se apresentá-lo com presas, será identificado como vampiro, tal a força dos caninos longos no imaginário popular.

Se você pegar 2, 7 e 8, terá um zumbi. A estilização estaria incompleta. Percebem? Há várias formas de se fazer a estilização, muitas que funcionam, mas um bocado que dá ideias erradas. Escolher as características certas nem sempre é fácil.

A moral da história não é, exatamente, a de que é dever de honra de um escritor ser convencional no momento de usar uma figura mitológica, nem esse blá-blá-blá intelectual chato. Gostem os ranzinzas ou não, Stephenie Meyer FEZ sucesso com seus vampiros incompletos, mas até muitos de seus fãs reconhecem que os vampiros dela são muito diferentes do tradicional. Receio que, se ela não tivesse atingido as leitoras em cheio com sua trama açucarada, ela seria um motivo ainda maior de piadas. Minha mensagem é que, se alguém quer se aproveitar de qualquer criatura mitológica, e pretende fazer isso sem criar uma criatura diferente e usar o nome antigo (o que pode dar certo se você é um gênio ou tem sorte, mas terrivelmente errado se não é ou não tem - e menos de 1% dos escritores são gênios, menos ainda têm sorte), tem que tomar cuidado na estilização.

É verdade que a imagem dos vampiros (por exemplo) mudou muito desde as primeiras histórias de cadáveres sugadores de sangue até hoje. Mas isso não foi de uma história para outra. Foi gradativo e, até onde pude notar correndo os olhos em histórias de vampiros do século XIX, eles acrescentaram muitas coisas ao mito original, mas tiraram bem poucas. Ainda usando comparações desenhísticas, creio que eles pegaram um rascunho (geralmente, criaturas mitológicas em seu estado bruto não são muito mais que isso, vide descrições de lendas brasileiras) e o arte-finalizaram, mas permitido que ainda fossem reconhecíveis os traços principais. Pegar esse desenho e distorcê-lo até só sobrar o branco dos olhos é como revisitar a Monalisa desenhando uma loura de biquíni. Pode ser um desenho sensacional, mas se a tal loura não tiver nem o sorriso misterioso da Gioconda, como um desavisado poderia dizer que se trata de uma revisitação de DaVinci?

Sejam responsáveis, pessoal. Ser original é criar coisas novas, mas ser original também é usar coisas antigas de um jeito diferente. Ficou muito na moda dizer “meus vampiros”, “seus vampiros”, “meu lobisomem”, “seu lobisomem”, mas isso é errado. “Vampiro” e “lobisomem” são ideias. Embora cada pessoa os veja de um jeito, existe aquilo que está no inconsciente coletivo. Não subestime o que as outras pessoas pensam a respeito do tema que você está tratando. São essas pessoas que vão te ler.

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(No próximo post, farei alguns comentários sobre como fiz minha estilização. Talvez ajude a dar uma ideia de como fazer isso pra alguém que não tenha ideia de como fazer. De bônus, virão uns links bacanas. Até lá. o/)